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2.5.13

O Dom do Cego

Confiança, o que é esta dita coisa de que tanto se fala ?
Dei por mim deitada á procura de um significado que se atribuísse a esta esta estranha palavra, dei por mim á procura da confiança, desta estranha senhora que ninguém sabe se existe!
Saí com o meu casaco de lã quentinho, num dia frio e cheio de tons cinzentos como os olhos de um gato pardo, levei o meu chá de limão e parti em busca de algo que não sabia se iria encontrar, tratava se do dia de conforto, tudo o que conseguia ouvir, era o som das minhas botas nas pedras da calçada.
Procurei em todos os cantinhos, até aos passarinhos que passavam por mim, perguntei se conheciam aquela senhora, a dita Confiança.... mas o silêncio era a minha resposta.
Estava farta de andar, estava farta do único som que ouvia nas ruas, das folhas, do som dos meus passos, então, sentei me no banco de um jardim, abri o velho livro que trazia comigo, aquele em que em cada página tinha uma flor seca, abri, senti o seu cheiro, o cheiro a conhecimento, fechei os olhos, recostei me e deixei que a sombra das ramagens me tatuasse o rosto por meros instantes, enquanto o vento folheava e libertava o cheiro a conhecimento que permanecia dentro do meu livro.
Pensei e repensei o que poderia fazer, para encontrar o que tanto procurava, mas encontrei a resposta rapidamente assim que abri os olhos, assim que realmente deixei de ser cega ...
Diante de mim, estava um sábio, de cabelos brancos, de rugas e olhos claros, olhava em redor e fixava se na natureza, pareceu me que tentava seguir o vento invisível, pareceu me que também procurava algo ,então fui ao seu encontro, e perguntei lhe numa voz tímida:
"-sabe onde posso encontrar a Confiança? sabe se existe? sabe onde mora esta senhora, com este nome tão estranho?"
Olhei para os seus olhos claros, reparei que pareciam diamantes, tão verdadeiros, tão claros, tão dignos de confiança, olharam para mim como se tivessem uma resposta para a minha pergunta e ao mesmo tempo parecendo vazios, aqueles olhos, responderam me ...
"- Encontrei a Confiança uma vez, não tive o prazer de ver tal pessoa, tal vento, tal flor, tal animal, a confiança não permanece ao pé das pessoas muito tempo, salta de coração em coração, destroça aqueles por onde passa, e não fica, a confiança é digna de respeito e poucas palavras, não se vê mas rodeia nos, infelizmente cabe a nós não confundir confiança, com outra senhora chamada curiosidade, são parecidas, mas não se podem confundir..."
No instante em que ouvi aquelas palavras sábias, e que tornei a olhar para os olhos daquela alma, percebi que aquele azul, aqueles diamantes, não viam, apenas sentiam, apreciavam o vento, o toque das flores, da bondade, percebi que era impossível que aquela pessoa visse a confiança, percebi que nem eu a poderia encontrar, percebi isso, porque ele próprio só a tinha encontrado uma vez, não lhe perguntei em que circunstancias a teria encontrado, não quis que fosse confundido com a minha curiosidade ou confiança, por isso, estiquei a mão, e dei a mão aquela pessoa, que se mostrou não reconhecedora de tal gesto de amabilidade, talvez pela falta de hábito daquele gesto, percebi então porque razão só tinha encontrado a senhora confiança uma vez, pela forma como segurou na minha mão, realmente tive vontade de me dedicar á palavra "porquê" porque a confiança e a curiosidade estão ambos em nós, porque não precisamos de procurar, porque a confiança esta em cada um e cada um usa esta dita senhora como entende, e por isso é que ela se revolta, por isso é que a senhora confiança parte corações e cria o sabor do sal das lágrimas na nossa boca .
Perguntei me como é que uma alma sem que lhe tenham concedido o dom da visão, poderia alguma vez ter encontrado a confiança, ou mesmo procura la, mas agora percebo, que a visão é muitas vezes o que nos engana,  percebo também que não é algo que nos facilite esta procura, dificulta-a  ainda mais...
Percebo que tem de haver ingenuidade para que exista confiança, no entanto tem de haver também consciência e algo que torne perceptíveis as intenções das pessoas, por isso, ninguém deve viver a pensar nas boas intenções destas, porque não existem em todas as almas que passam por nós na rua, existem naquelas que nos depositam a sua confiança verdadeiramente e esperam a nossa de volta, mas isso é feito com um pé na nuvem, outro no céu....
Por fim, percebi que não precisava de procurar mais a confiança com os meus olhos, pelas ruas vazias da minha cidade, agora sei que nunca a encontrarei com o dom da visão, mas sei, que a única coisa que pode acontecer, é encontra-la com o meu coração ...


Mariana Tavares De Pina 



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